Uma punição pra quem fica: "
Na quinta-feira passada, uma menina do meu prédio se matou. Cortou a tela de proteção da janela do quarto e pulou do oitavo andar. Caiu de bruços na beirada da piscina, na frente de três pessoas – duas crianças e um adolescente.
Menina mesmo, aparentava ter uns 22 anos. Eu não a conhecia. Não sabia seu nome, o que fazia, nem quantos anos tinha de verdade. Depois descobri que se chamava Diana, que ela morava por aqui há quase um ano, sozinha, sem os pais, mas com dois gatos. E que, às vezes, Diana comentava com a faxineira do prédio, enquanto ela limpava o elevador, que era muito triste morar sozinha.
Mas quando eu descobri tudo isso ela já estava ali, deitada, defenestrada, estatelada, como se estivesse tomando sol em um dia útil descompromissado, sorrindo até, só que morta.
Fico pensando nessa nossa mania classe média de não querer se meter, do “ai, meu deus, o que os outros vão pensar?”, do medo de ser taxado de fofoqueiro, intrometido, entrão, de ouvir um “e o que você tem a ver com a minha vida?”. Essa mania individualista de não perguntar o que é que se passa com o outro, de não querer saber, de não se apresentar e trocar nomes.
Fico pensando em quantas vezes, nos encontros casuais no elevador, na portaria, ou nas calçadas do bairro, eu não negligenciei um “tudo bem?” depois do “bom dia!” para a Diana. Quantas vezes eu – e todo mundo – lhe neguei a partilhar de seus problemas, mesmo que ela não quisesse, mesmo que ela me achasse a maior das intrometidas, mesmo que ela dissesse “vá para a puta que te pariu e cuide da sua vida!”
Porque eu sabia que tinha alguma coisa errada com ela – e todos sabiam: a menina da limpeza, os pais que não moravam com ela, o zelador que contou que em um ano ela não recebeu nenhuma correspondência (nem as contas), a vizinha que viu Diana nadar na piscina gelada em um dia que fazia um frio do caralho no inverno passado. Eu que peguei elevador com ela no sábado e comentei com meu namorado que ela me parecia uma menina triste.
Não sei se perguntar à Diana ou a qualquer outro desconhecido se está tudo bem, se quer conversar, faria mudá-los de suas decisões. Acho que ela não seria mais ou menos feliz, não teria mudado a história da sua vida nem de sua morte. O que acho é que, por pelo menos cinco minutos, durante o “tá tudo bem!” ou “não tá tudo bem e blá blá blá”, ela teria se sentido menos invisível. Naqueles cinco minutos (ou 10, ou 20, ou 30, sei lá), Diana teria sabido que alguém se importava com ela.
Uma boa-noie ! Sônia
Na quinta-feira passada, uma menina do meu prédio se matou. Cortou a tela de proteção da janela do quarto e pulou do oitavo andar. Caiu de bruços na beirada da piscina, na frente de três pessoas – duas crianças e um adolescente.
Menina mesmo, aparentava ter uns 22 anos. Eu não a conhecia. Não sabia seu nome, o que fazia, nem quantos anos tinha de verdade. Depois descobri que se chamava Diana, que ela morava por aqui há quase um ano, sozinha, sem os pais, mas com dois gatos. E que, às vezes, Diana comentava com a faxineira do prédio, enquanto ela limpava o elevador, que era muito triste morar sozinha.
Mas quando eu descobri tudo isso ela já estava ali, deitada, defenestrada, estatelada, como se estivesse tomando sol em um dia útil descompromissado, sorrindo até, só que morta.
Fico pensando nessa nossa mania classe média de não querer se meter, do “ai, meu deus, o que os outros vão pensar?”, do medo de ser taxado de fofoqueiro, intrometido, entrão, de ouvir um “e o que você tem a ver com a minha vida?”. Essa mania individualista de não perguntar o que é que se passa com o outro, de não querer saber, de não se apresentar e trocar nomes.
Fico pensando em quantas vezes, nos encontros casuais no elevador, na portaria, ou nas calçadas do bairro, eu não negligenciei um “tudo bem?” depois do “bom dia!” para a Diana. Quantas vezes eu – e todo mundo – lhe neguei a partilhar de seus problemas, mesmo que ela não quisesse, mesmo que ela me achasse a maior das intrometidas, mesmo que ela dissesse “vá para a puta que te pariu e cuide da sua vida!”
Porque eu sabia que tinha alguma coisa errada com ela – e todos sabiam: a menina da limpeza, os pais que não moravam com ela, o zelador que contou que em um ano ela não recebeu nenhuma correspondência (nem as contas), a vizinha que viu Diana nadar na piscina gelada em um dia que fazia um frio do caralho no inverno passado. Eu que peguei elevador com ela no sábado e comentei com meu namorado que ela me parecia uma menina triste.
Não sei se perguntar à Diana ou a qualquer outro desconhecido se está tudo bem, se quer conversar, faria mudá-los de suas decisões. Acho que ela não seria mais ou menos feliz, não teria mudado a história da sua vida nem de sua morte. O que acho é que, por pelo menos cinco minutos, durante o “tá tudo bem!” ou “não tá tudo bem e blá blá blá”, ela teria se sentido menos invisível. Naqueles cinco minutos (ou 10, ou 20, ou 30, sei lá), Diana teria sabido que alguém se importava com ela.
Uma reflexão indispensável. Uma historia triste mas deixando uma compreensão do excesso de privacidade que permeia o mundo das grandes cidades .....Gostei da reflexão do autor. |
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