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terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Amar - Carlos Drummond de Andrade


Postagem do Blog :  http://doce-como-a-chuva-blogspot.com /
Que pode uma criatura senão, senão entre criaturas, amar? amar e esquecer, amar e malamar, amar, desamar, amar? sempre, e até de olhos vidrados, amar? 

 Que pode, pergunto, o ser amoroso sozinho, em rotação universal, senão rodar também, e amar? amar o que o mar traz à praia, o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha, é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia? 
 Amar solenemente as palmas do deserto, o que é entrega ou adoração expectante, e amar o inóspito, o áspero, um vaso sem flor, um chão de ferro, e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e uma ave de rapina.

 Este o nosso destino: amor sem conta, distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas, doação ilimitada a uma completa ingratidão, e na concha vazia do amor a procura medrosa, paciente, de mais e mais amor. 

Amar a nossa falta mesma de amor, e na secura nossa amar a água implícita, e o beijo tácito, e a sede infinita.

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O poeta sempre é capaz de traduzir, imaginar e brincar com as palavras, e dar um sentido todo especial ao Texto.
Achei muito especial-Sônia

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